quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

i'm not a bird, i'm a murder of...birds.


uma carruagem, trinta passos e um vento cortante levantando a aba do chapéu. sem hesitar, ela entrou na loja de animais e perguntou:
-vocês vendem canários?
o atendente, sem sorrir, passou a mão por entre as grades de uma gaiola vazia.
-acabaram de levar o último. e pra sempre.
-como assim pra sempre?
-ah, você não lê jornal? a venda de canários está proibida. bem, começa amanhã na verdade. e já passa das oito, a essa hora nenhuma outra loja deve estar aberta.
-mas esse canário que foi vendido era meu! ele fugiu e vocês pegaram ele. eu sei, tenho certeza.
-olha senhora, retire-se dessa loja imediatamente. ou vou ter que soltar os gatos em cima de você, que inclusive estão morrendo de fome por causa do racionamento de comida.
-cale essa boca imunda. devolva o meu canário já!
nesse instante, a mulher pegou uma lata pesada de ração para papagaios ou qualquer coisa que o valha, e ameaçou o vendedor.
-não quero chamar a polícia. por favor senhora, saia da loja agora!
um banho de sangue e penas se espalhou pelo ambiente.
-aqui! esse era o meu canário, seu desgraçado. ele cantou, cantou e agora se foi...
o homem, estirado no chão, com uma hemorragia frenética saindo-lhe pelos buracos da orelha e dos olhos, olhava para a gaiola vazia, onde um canário agora também jazia morto, ensanguentado, tentando ainda proferir alguma nota musical para o além-mundo. no além-mundo, o canário ainda cantava, mas nenhum som saía. sua dona, presa, e o atendente do pet shop olhavam para uma gaiola distante, vazia, enferrujada, cheia de penas. era lá que ele estaria, se não tivesse sido atropelado pela minivan e caído em uma valeta com as penas e pernas quebradas. o vendedor o havia acolhido, e o levado para a loja. não vendo jeito de salvá-lo, ele colocou o cadáver do bicho embaixo de uma pilha de sacos de alpiste. a dona, sim a dona, viria procurá-lo e sentiria o cheiro do sangue. um assassino de pássaros! não, pois que ele mesmo, também um pássaro talvez, seria morto em seguida com uma rajada de latas de ração na cabeça.

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